Financeirização e plataformização dos trabalhos de inovação: o assalariamento por peça nas startups de base tecnológica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14244/rechu.v2i1.23

Palavras-chave:

trabalhos de inovação, plataformização, financeirização, startups, salário por peça

Resumo

O artigo visa evidenciar a plataformização dos trabalhos de inovação como um método de gestão que viabiliza às indústrias high-tech o uso do capital financeiro liberalizado para camuflar processos de subordinação de força de trabalho qualificada. O hub de inovação Cubo Itaú é apresentado como um modelo de negócio que permite elucidar a maneira pela qual essas corporações têm se servido de plataformas digitais para mediar investimentos financeiros diretos em startups de base tecnológica, voltadas a incrementação de suas patentes. A análise demonstrou que tal esquema favorece estratégias corporativas que disfarçam relações trabalhistas como relações comerciais, através de uma forma de assalariamento por peça análoga à da uberização. Assim, embora a plataformização desse tipo de atividade tenha natureza e escopo diferentes das plataformas de uberização, seu uso converge para os mesmos fins: evasão de direitos trabalhistas e a transferência de seus custos e riscos para os próprios trabalhadores. 

Biografia do Autor

Simone Wolff, Universidade Estadual de Londrina - UEL

Professora Associada do Departamento de Ciências Sociais e Docente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).  

João Fernando de Lima Parra, Universidade Estadual de Londrina - UEL

Doutorando em Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestre em Marketing e Pesquisa de Mercado pela Universidade de Valência (Espanha).

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Publicado

10-09-2024

Como Citar

Wolff, S. ., & Parra, J. F. de L. . (2024). Financeirização e plataformização dos trabalhos de inovação: o assalariamento por peça nas startups de base tecnológica. Revista Estudos Da Condição Humana, 2(1). https://doi.org/10.14244/rechu.v2i1.23